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Nova substância psicoativa em Portugal. Tudo sobre a arecolina

4 Jul 2024 - 10:20

Nova substância psicoativa em Portugal. Tudo sobre a arecolina

O Laboratório de Polícia Científica da Polícia Judiciária (PJ) detetou, pela primeira vez em Portugal, a presença de arecolina, uma substância psicoativa

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Num comunicado publicado no site da PJ, refere-se que esta substância foi “detetada em tabaco de mascar, misturada com nicotina e mentol”. O que é a arecolina? Qual o seu efeito no organismo? É viciante?

Em esclarecimentos ao Viral, Diniz Cortes, médico de clínica Geral e Familiar e especialista em adictologia, e João Costa Pedro, psiquiatra na área de tratamento de comportamentos aditivos, respondem a cinco questões sobre a arecolina.

1 – O que é a arecolina?

No comunicado publicado pela PJ, explica-se que “a arecolina é um alcaloide encontrado na noz-de-areca, o fruto da palmeira areca”.

Segundo o psiquiatra João Costa Pedro, esta substância psicoativa “é consumida predominantemente no Sudeste Asiático”, onde este tipo de noz é abundante. 

Por norma, é “misturada com tabaco de mascar e usada pelo seu efeito estimulante e ligeiramente euforizante”, acrescenta.

2 – Como atua no organismo?

João Costa Pedro começa por explicar que “cada substância psicoativa tem um efeito específico em determinados recetores que existem em áreas específicas no cérebro”. 

Logo, “consoante o receptor ou neurotransmissor afetado, o efeito varia”, sustenta. 

Por exemplo, “os opioides afetam diretamente o recetor mu [μ]”, o que leva à “analgesia e sedação”, mas também aciona efeitos no cérebro “que levam à euforia, ao êxtase e à dependência”. 

No da arecolina, “o efeito é colinérgico”, frisa. Isto é, “afeta os recetores muscarínicos e nicotínicos do cérebro e do corpo, levando, por um lado, a um efeito relaxante, mas também [a um efeito] estimulante e euforizante”, esclarece o psiquiatra.

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Este efeito também se deve, em parte, ao facto de esta ação “aumentar a dopamina em determinadas zonas corticais, de forma indireta”, acrescenta.

Além disso, refere Diniz Cortes, o consumo de arecolina também pode provocar “quadros de alucinação”, ou seja, “a pessoa pode ver coisas que não estão lá ou interpretar fenómenos normais de uma maneira diferente”. 

Dependendo da dose, a arecolina pode ter “um efeito mais estimulante ou ansiolítico/sedativo”, frisa João Costa Pedro.

Tal como se expõe num relatório técnico da OMS, o consumo desta substância, habitualmente feito através da mastigação da noz-de-areca, provoca, de forma quase imediata, “tonturas e palpitações cardíacas”, “aumento da consciência” e “sensação de calor e suores”.

A pessoa pode ainda experienciar “desconforto epigástrico e diarreia”, “aceleração da respiração e do ritmo cardíaco”, “diminuição da sede e da fome” e “sensação de relaxamento e felicidade”, aponta-se.

3 – O consumo de arecolina vicia?

Sim, de acordo com os especialistas contactados pelo Viral, o consumo de arecolina pode causar adição. Esta ideia também é reforçada pelo relatório técnico da OMS.

Segundo João Costa Pedro, “o efeito estimulante” que esta substância provoca “leva, muitas vezes, à repetição do consumo”. Daí ter “um potencial de abuso e adição”, reforça.

Na perspetiva de Diniz Cortes, este tipo de substâncias tem sido utilizado em “consumos recreativos”, não se verificando ainda “um consumo dependente” em Portugal.

Ainda assim, os especialistas realçam o efeito nocivo desta substância, que não deve ser ignorado.

4 – A arecolina está associada ao aumento de risco de cancro?

Sim. Aliás, destaca João Costa Pedro, “a arecolina está na lista de substâncias proibidas pela União Europeia” (ver aqui e aqui), devido ao “seu potencial carcinogénico”.

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De acordo com dois documentos da OMS que pretenderam avaliar os riscos do uso de noz-de-areca para a saúde, a arecolina pode causar lesões pré-malignas orais e vários tipos de cancro (sobretudo cancro da cavidade oral).

Por esse motivo, a venda desta substância “é restrita ou proibida em muitas zonas do mundo”. 

5 – Quais os outros riscos para a saúde associados ao uso desta substância?

Além de esta substância potenciar o desenvolvimento de doença oncológica, segundo o mesmo documento da OMS, o uso habitual da arecolina, presente na noz-de-areca, pode ter outros efeitos adversos na saúde a longo prazo.

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São eles: “efeitos orais específicos, cardíacos e respiratórios, diabetes mellitus, maus resultados na gravidez, doenças mentais, dependência e efeitos tóxicos”, refere-se.

Fala-se especificamente de “taquicardia”, “enfarte agudo do miocárdio”, agravamento de quadros de asma, “aborto espontâneo” (em caso de gravidez), “leucoplasia” (manchas cinzentas ou brancas no interior da boca), “sintomas de abstinência”, entre outros.

4 Jul 2024 - 10:20

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